Domínio de novas plataformas é diferencial para engenheiro civil
A construção civil é uma das áreas mais afetadas pela crise no Brasil. Em 2018, o PIB do setor apresentou queda nos dois primeiros trimestres do ano, mesmo com o ligeiro crescimento da economia. Esse cenário, segundo o Seesp (Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo), levou muitos profissionais a migrarem para empresas de consultoria e finanças. A disputa de vagas nesse mercado exige ainda mais qualificação dos profissionais. Segundo especialistas, destaca-se hoje na engenharia civil quem sabe lidar com a tecnologia BIM (Building Information Model), que projeta virtualmente as etapas de construção de uma obra.
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Depois da expansão do mercado nos períodos da Copa do Mundo e Olimpíada, os engenheiros civis sofrem com o marasmo ocasionado pelos desdobramentos das operações Lava Jato nos negócios das construtoras.
A construção civil é uma das áreas mais afetadas pela crise no Brasil. Em 2018, o PIB do setor apresentou queda nos dois primeiros trimestres do ano, mesmo com o ligeiro crescimento da economia.
Esse cenário, segundo o Seesp (Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo), levou muitos profissionais a migrarem para empresas de consultoria e finanças.
A disputa de vagas nesse mercado exige ainda mais qualificação dos profissionais. Segundo especialistas, destaca-se hoje na engenharia civil quem sabe lidar com a tecnologia BIM (Building Information Model), que projeta virtualmente as etapas de construção de uma obra.
Com o BIM, que pode reunir informações de diferentes softwares em uma só plataforma, é possível prever, por exemplo eventuais conflitos entre as áreas elétrica e hidráulica num projeto.
Comum nos Estados Unidos, no Japão e na Europa, a plataforma ainda é pouco usada no Brasil –o que deve mudar nos próximos anos. Em maio, o presidente Michel Temer assinou decreto para disseminar o BIM no país, com base em estudo que propõe tornar obrigatório seu uso em obras públicas federais do país a partir de 2021.
"As vagas de estágio já estão pedindo ao menos uma noção do BIM. Para o recém-formado, a exigência é maior", diz Marcellie Dessimoni, coordenadora do Núcleo Jovem Engenheiro do Seesp. Como nas universidades a tecnologia ainda é pouco utilizada, cursos de extensão são recomendados, diz ela.
Por saber usar a plataforma BIM, o engenheiro civil André Nigro, 38, ficou apenas um dia desempregado em 2015. A empresa em que trabalhava alegou que precisava reduzir o quadro e o colocou na lista de demitidos. No dia seguinte, entretanto, ele foi contatado por uma outra empresa pelo domínio da ferramenta.
Hoje, presta consultoria da tecnologia para o mercado e se alicerça exclusivamente na plataforma desenvolvendo projetos para aprimorá-la.
"É uma área mais promissora porque nessa época de baixa no mercado todo mundo procura a especialização", diz.
Como permite trabalhar em conjunto com projetos de outros profissionais, como os de arquitetos, o BIM reforça o perfil de liderança que um engenheiro precisa ter hoje.
"Hoje o engenheiro é um gestor. Tem de equilibrar vários pratos ao mesmo tempo", diz o presidente do CTE (Centro de Tecnologia de Edificações), Roberto de Souza.
É desejável também que o profissional domine outras tecnologias, como a de drones usados no mapeamento topográfico. Souza aponta ainda a necessidade da familiarização com aspectos sustentáveis de obras e serviços, cada vez mais demandados.
De acordo com o professor Eduardo Toledo, especialista do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da USP, as obras têm sido construídas cada vez mais rápidas por causa dos diferentes softwares disponíveis hoje.
Dominar as novas tecnologias, segundo ele, é portanto fundamental para quem disputa uma vaga no mercado sem, claro, deixar de lado a teoria. "Não é porque eu tenho a última versão do Microsoft Word [processador de texto] que eu vou fazer um best-seller. Da mesma forma, não é porque tenho a última versão do BIM que eu vou fazer uma casa maravilhosa", diz.
Em relação ao mercado, Toledo diz que a recuperação econômica reaquecerá o setor da construção civil.
"O Brasil tem déficit habitacional de milhões de moradias. O potencial da construção é enorme", afirma.
Fonte: Folha de S. Paulo - Sobre Tudo - Renan Marra - São Paulo - 27/09/2018